Pioneirismo em inovação no Brasil

Brasil tem seis companhias com ISO 56002 de Inovação
(Kátia Simões, para o Valor de São Paulo)

Com o objetivo de ajudar as empresas a manterem seus negócios atraentes e lucrativos em um ambiente volátil como o atual, a ISO – Organização Internacional de Padronização – formou em 2013 um grupo de estudos para mapear as melhores práticas de inovação ao redor do mundo.

O trabalho resultou na criação da ISO 56.002 de gestão de inovação. No total são nove normas, que defendem que a inovação pode ser um produto, serviço, processo, modelo, método ou a combinação de várias propostas desde que caracterizada por novidade e valor. Ou seja, inovação sem manifestação de valor não passa de invenção. Durante seis anos, representantes de 63 países, entre eles Canadá, Portugal, Espanha, Inglaterra, Rússia e Brasil trabalharam na construção das normas. Baseada em oito pilares – direção estratégica, abordagem por processos, realização de valor, liderança com foco no futuro, cultura colaborativa, adaptabilidade e resiliência, gestão de incertezas e gestão de insights – a ISO 56.002 foi publicada em julho de 2019. Desde então, mais de cem empresas de diversos portes e segmentos procuram entender melhor a aplicabilidade e os benefícios de gestão de inovação proposta pela ISO, incluindo seis companhias brasileiras”, diz Alexandre Pierro, sócio-fundador da Palas, consultoria pioneira na formatação e implementação da ISO 56.002 no país.

A primeira a receber o atestado de conformidade na América Latina foi a MZF4, indústria de transformação do ramo de nylon do grupo Mazzaferro. “Nós sempre fomos inovadores, mas faltava a metodologia que a ISO nos trouxe”, afirma o CMO Fabrício Saad. Durante um ano, com a ajuda da Palas, nós fomos ajustando a empresa às boas práticas. Quando a norma foi publicada, estávamos com o sistema de gerenciamento da inovação redondo”, afirma.

O processo incluiu o desenvolvimento de uma série de mecanismos para impulsionar a criatividade das equipes e a efetiva aplicação das ideias, com a criação de um comitê de inovação, clínicas de design thinking e o programa Eureka, que já gerou 20 ideias premiadas e 50 aprovadas.

Os resultados, segundo Saad, são visíveis. “O valuation da marca aumentou, a empresa mais do que triplicou a representatividade do faturamento advindo de produtos inovadores, saltando de 5% para 16% da receita”, declara. Sem contar a queda do risco de investimento na companhia, o que contribuiu para que as taxas de juros propostas pelos bancos caíssem pela metade.”

Quem também já colheu resultados foi a Atento, multinacional de contact centers, que decidiu investir na ISO 56.002 para ter certeza de que estava no caminho correto. “A certificação reforça a nossa preocupação com a inovação na cultura da empresa, garante governança aos processos, além de mapear riscos e envolver mais colaboradores na gestão da inovação”. diz o diretor Maurício Castro. “Nós já tínhamos um sistema bem estruturado, fizemos alguns ajustes, mas sobretudo, conseguimos alinhar a inovação interna e externa com a criação de uma aceleradora de startups, implantamos uma plataforma de gamificação para nossos 500 colaboradores colocarem suas ideias e desenvolvemos 15 projetos ligados à inovação envolvendo as diversas áreas da companhia.”

Segundo Pierro, uma empresa de médio porte desembolsará cerca de R$ 60 mil na contratação de consultoria externa para adaptação às normas e pedido da certificação. O valor inclui o acompanhamento durante 3 anos. Assim como as demais, a ISO 56002 precisa ser renovada anualmente.

Há quem, porém, cumpra todo o processo preparatório, mas preferiu esperar o mercado amadurecer para investir na certificação propriamente. É o que fez a Stefanini, multinacional brasileira da área de tecnologia. “Nosso principal objetivo era saber qual o estágio de maturidade da companhia em relação à inovação, onde precisávamos melhorar, nossos pontos fortes e, diante do resultado, se necessário, refazer a rota”, diz Mary Ballesta, diretora global de inovação. “Percebemos que fazíamos tudo certo, mas não documentávamos nada.”

Ao longo de 2020, a Stefanini trabalhou na construção de um portal de inovação, reunindo toda a política da companhia relativa ao tema, o direcionamento das estratégias, as ferramentas adotadas e o portfólio de ofertas. “Nossas boas práticas estão 100% de acordo com as normas internacionais previstas pela ISO, mas o investimento para a certificação será feito no futuro”, diz a executiva. “Entendemos a importância da norma mas o mercado precisa estar maduro e preparado para absorver essa valorização.”

Publicada no jornal Valor Econômico em 31/agosto/2021:
valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2021/08/31/brasil-tem-seis-companhias-com-iso-56-002-de-inovacao.ghtml